PARADIGMAS DA ROSA
(Autoria: Janaina Figueiredo, Rio Branco – AC, 24/09/2010)
Apesar de acreditar que algumas
coisas estão predestinadas a acontecer em nossas vidas, algo que está acima da
dimensão da nossa compreensão, do nosso entendimento, mas somos nós que
escolhemos o grau de intensidade de vivenciá-las ou não. Embora tenha demorado
um pouco pra perceber, hoje vejo claramente que o curso do nosso destino está
em nossas mãos, mais precisamente em nossas escolhas. E nada, absolutamente
nada, acontece por acaso. Tudo que acontece em nossa vida é por um motivo, uma
razão que transcende na maioria das vezes o alcance de nossa visão no momento
em que elas ocorrem. Mas lá na frente entendemos exatamente o porquê e vemos
que há uma ligação intrínseca com as nossas escolhas.
Às vezes, algumas circunstâncias
da vida, normalmente experiências dolorosas que provocam cicatrizes profundas,
fazem-nos ter medo de confiar, de arriscar, de nos decepcionar novamente, de
nos doar, de viver cada momento com a plenitude e espontaneidade dos
sentimentos. O medo torna-se na nossa visão um aliado, uma espécie de escudo
que nos guarnece de alguns sofrimentos indesejáveis e induz a nos aprisionarmos
dentro de um casulo porque achamos que nossas forças internas são ínfimas para
suportar e superar a dor. Sentimo-nos oprimidos e frágeis diante de uma
realidade que queremos fugir e evitar a qualquer custo: o sofrimento. E assim
preferimos permanecer dentro dos limites de um casulo, alimentando nossos
singelos sonhos com a doçura e os finais sempre felizes de contos de fadas
porque a realidade além dele é às vezes muito cruel. Vemos pessoas mentindo,
manipulando, brincando com os sentimentos dos outros com a maior naturalidade
do mundo. Ouvimos pessoas falando em qualquer ocasião sobre o amor, sem se dar
conta que ele é discreto e resplandece genuinamente do coração no carinho, no
trato, na atenção, na admiração, no respeito e no zelo direcionado a outra
pessoa.
Até que um dia, uma voz interior
clama por um novo horizonte, por novas experiências revigoradoras da alma. Você
se sente então confiante de sair do casulo, como uma lagarta que passa pelo
processo de metamorfose, ganha asas e se transforma numa bela borboleta. É uma
sensação incrível a de aprender a voar inexperientemente no vasto horizonte. E
logo você vislumbra um radiante arco-íris que colore na sua atmosfera uma
pequena gota de cor, suficiente para fazer seu coração pulsar com uma vibração
intensa jamais vivenciada, suficiente para você querer simplesmente ser banhada
profundamente pelas suas reluzentes cores por toda a sua vida. Então, você doa
o melhor de si, busca toda a sua força interna para voar em direção a uma
altitude que você supunha jamais alcançar, simplesmente para estar próximo a
ele. E quando você consegue tocá-lo então, um oceano de emoção transborda no
seu coração, uma aurora boreal cintila a sua alma e literalmente você se sente
transportada a uma outra dimensão. Um sentimento intenso se cristaliza no seu
interior formando uma escada ascendente à sua frente, convidando-o a crescer em
todos os sentidos. Até que inesperadamente o arco-íris desaparece, anunciando
uma tempestade que desestabiliza o seu voo e escurece o seu horizonte. Daí,
você olha dentro de si e observa que o arco-íris se foi, mas não levou em hipótese
alguma a sua capacidade de superação e a esperança de alçar voos mais altos em
busca da tão sonhada felicidade.
Observemos uma rosa em toda a sua
concepção. No seu sustentáculo, há espinhos que machucam. Na sua estrutura, há
pétalas que suavizam. Ou seja, a dor e o amor estão presentes na perfeição que
é uma rosa. Isso demonstra que às vezes é necessário percorrermos nossas mãos
por cada espinho até conseguirmos tocar as suas pétalas. Vale a pena
experimentar a dor do espinho para sentir a textura delicada das pétalas da
rosa ou vice-versa? Eu posso afirmar que sim, mas a escolha é de cada um e
sempre será. Quem de nós já não teve uma decepção amorosa? Quem de nós não
vivenciou isso um dia, que atire a primeira pedra. Contudo, é melhor se
arrepender tentado sentir a textura das pétalas da rosa, mesmo que de forma
transitória, a passar a vida toda se lamentando e se resguardando por medo da
dor do espinho.
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