SEDE DE VIVER
(Autoria: Janaina Figueiredo, Rio
Branco-AC, 09/12/2010)
Por
uma longa década, o meu limitado conceito sobre o ato de viver poderia ser
resumido numa palavra: comodismo. Era muito cômodo viver enclausurada num
casulo que eu mesma delimitei, trancada em meus próprios sentimentos e
acorrentada pelos meus próprios medos.
Eram tantos... Medo de sofrer uma grande decepção amorosa e não ter forças
pra seguir em frente, medo de decepcionar as pessoas que me viam como um modelo
de adolescente eticamente correta, medo de machucar profundamente alguém, medo
de mudanças revigoradoras e apológicas à vida, medo de falhar quanto todo mundo
esperava uma atitude correta de minha parte. Eu poderia substituir essa palavra
medo por receio, mas vejo que seria uma forma de mascarar suavemente o que me
afligia, uma forma de não querer encarar a realidade de frente, ou melhor, o
medo.
Quantas
travas e quanto peso coloquei no limiar de mim mesma? Quanto tempo fui rigorosa
comigo mesma? Quanto tempo retardei o processo de metamorfose da lagarta
vislumbrar a vida nas nuances de suas asas? Quanto tempo eu adiei a borboleta
ver um radiante arco-íris, de sentir a textura da rosa e também lacrimar pela
dor do espinho? Rastejando num casulo, definitivamente não seria possível.
Hoje, quase
aos trinta anos, eu olho pra trás e me sinto responsável pela grande lacuna da
minha existência nesse estágio (e não vivência). Lágrimas ainda respingam
(estão respingando agora na edição desse texto). Porém, o mais importante é que
uma vivência forte, intensa e inesquecível tocou meu coração, despertando-me a
entender que a vida realmente “é o sopro do Criador numa atitude repleta de
Amor”. E está em nossa escolha, no nosso querer repentino, a cada momento,
permitir que esse sopro penetre no nosso eu mais profundo, pois somente ele nos
faz desapegar do medo que usurpa a busca de nossas realizações e sonhos, que
anestesia nossos sentimentos e nos impede de viver. É preciso permitir que esse
sopro aflore o amor em si próprio e então estendê-lo ao próximo, sem medo, com
coragem, responsabilidade e sinceridade. Sabendo que o equilíbrio entre a razão
e a emoção se adquire no decorrer da vivência, se permitindo, tendo e
aproveitando as oportunidades. Afinal de contas, ninguém nasce com ele, embora
constatamos que alguns o adquirem em menos tempo. Quanto ao sofrimento, ele é
mais um ingrediente favorável à conquista desse equilíbrio, de amadurecimento.
E embora inevitável, ele sempre nos fortalece interiormente e traz alguma
lição, algum aprendizado.
Por isso,
tenho sede de viver, sede de movimento, de cor, de inovação, de transmutação,
de poesia, de encantamento, de pulsação, de superação, de amadurecimento, de
equilíbrio entre razão e emoção. Sinta, seja, esteja, sonhe, busque, doe,
descubra, rejuvenesça, perdoe. Isso é viver com intensidade, espontaneidade e
plenitude. Permita ser ou deixe que alguém seja a inspiração, ou a luz das
estrelas, ou o farol, ou a bússola, ou o sol, ou a lua, ou o arco-íris, ou a
aurora boreal, ou a rosa, ou o oceano, ou a pérola, ou a poesia ou o que quer
que seja nessa direção ascendente. É a melhor sensação que alguém pode
vivenciar. Risco de não ser retribuído e depois sofrer? Sim, ele existe a todos
que se propõem a isso. Não seria diferente comigo. Não será diferente com você.
Esse é o preço que escolhemos quando estamos dispostos a viver. Mas lembre-se:
é dando que se recebe. E certamente aquele que se doa verdadeiramente, um dia
(nesse ou em outro estágio de vida) será retribuído, terá a sua vivificante
recompensa. Essa é a esperança que pacientemente me permeia e ninguém pode
quebrá-la, definitivamente ninguém.
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